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“Muitos jovens sofrem de bullying”

Combater a exclusão social, integrar, e dar voz a crianças e jovens adolescentes com problemas associados à saúde mental, são os objectivos do projecto #fazesparte. Promovido pela YMCA em Portugal, o projecto é inspirado na campanha internacional  #I AM WHOLE que tem tido um enorme sucesso em Inglaterra com o envolvimento de vários artistas, políticos e o Ministério da Saúde Inglês. Á semelhança do que se passa no Reino Unido, também o projecto #fazesparte foi integrado numa das quatro metas a atingir em 2020 no Programa Nacional de Saúde Mental do Serviço Nacional de Saúde em Portugal através de acções de sensibilização junto de escolas e sociedade civil. Rita Vera, Elisabete Felipe e Sofia Correia [na foto, da esquerda para a direita] integram a equipa coordenadora do projecto #fazesparte YMCA Setúbal e explicam qual a importância desta campanha no combate de estereótipos e preconceitos associados à saúde mental, nomeadamente atitudes que resultam no bullying, entre outras formas de violência que atingem este grupo.

O que é o projeto #fazesparte?

O nosso projecto #fazesparte nasce inspirado na participação num encontro internacional entre várias YMCA’s – o Innovation Camp – cujo tema escolhido foi a Saúde Mental e a Juventude. Nesse encontro, foi possível conhecer a campanha anual da YMCA de Inglaterra e Gales, uma campanha de sensibilização e combate ao estigma da saúde mental, alertando para o sofrimento e outros impactos negativos que os jovens com dificuldades ou problemas de saúde mental sofrem quando estigmatizados. Saímos desse encontro na Suíça, em Outubro de 2017, com o compromisso de criar um novo projecto nesta área ou adaptar um já existente. Dada a realidade Portuguesa da comunidade onde intervimos e os objectivos da nossa associação – trabalhar para e com a juventude – pareceu-nos o “casamento” perfeito e não faria sentido criar um novo projecto, mas sim levar esta causa e campanha além-fronteiras e, adaptá-la à nossa realidade, intervenção e recursos. Um dos objectivos do projecto #fazesparte é nos associarmos à campanha #I AM WHOLE e, à semelhança do que foi feito em Inglaterra, realizámos um vídeo promocional sobre o tema (agora em fase de edição). Este vídeo tem como objectivo passar nas redes sociais e imprensa e ser uma ferramenta para promover acções de sensibilização, prevenção e de combate ao estigma junto das escolas. Mas o projecto pretende ir mais além, adaptando a mensagem a diversas faixas etárias, quer através da realização de jogos de afectos onde trabalhamos os valores ou através de actividades de bem-estar. Combater, informar e prevenir são as nossas grandes linhas orientadoras. Pretende-se promover a literacia sobre a saúde mental e diminuir o estigma. Temas como o bullying, a importância da amizade, o respeito, os afectos, entre outros são temas que gostaríamos de ver debatidos.

70% dos e das jovens diz que o estigma em torno da saúde mental reduz a probabilidade de falar com outras pessoas acerca deste tema

Como surgiu a campanha #IAMWOLE e no que consiste?

A campanha #IAMWOLE nasce na YMCA de Inglaterra e Gales em 2016 e visa mudar o modo como as pessoas descrevem os problemas de saúde mental e incentiva os jovens a procurarem apoio junto dos seus amigos, pais, professores, médicos e assistentes sociais que trabalham com eles. A campanha baseia-se num estudo que a ACM/YMCA de Inglaterra realizou com mais de 2000 jovens entre os 11 e 24 anos, o qual indica que o facto dos jovens se sentirem estigmatizados por outros reduz a probabilidade de procurarem ajuda profissional. Muitos dos jovens com problemas de saúde mental sofriam de bullying dos próprios amigos. Outros sentiam vergonha de apresentar um problema desse tipo com medo de serem colocados de parte, e/ou serem tratados de forma diferente. Outros tinham receio de lhes ser diagnosticado um problema. Os problemas de saúde mental em crianças e jovens podem comprometer a sua saúde e bem-estar, o seu desempenho escolar e futuro a nível social/profissional. Com receio da reacção dos outros, as crianças/jovens podem isolar-se e não procurar ajuda, e quando os problemas são detectados por vezes já é tarde. Este é o espírito da campanha “I AM Whole”. 

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Quando falamos da saúde mental, falamos de quê?

Como diz o nome da campanha – #IAMWHOLE – EU SOU UM TODO, somos efectivamente seres com uma dimensão física, espiritual, e mental, a diferença é que esta última não se vê. Importa ainda distinguir que quando falamos de Saúde Mental, estamos a referir-nos à área da Doença Mental e não da Deficiência Mental, sendo que esta última remete para um outro campo, o da deficiência. Quando se fala em saúde mental, estamos a falar em problemas/perturbações, em «reacções emocionais inapropriadas dentro de vários padrões e graus de gravidade, por distorções e não por deficiência», segundo os autores Prof. Henry V. Cobb e Prof. Peter Miller. De acordo com os especialistas (Dra. Maria do Carmo Santos, pedopsiquiatra e autora do livro “Problemas de Saúde Mental em Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e intervir”) existem os problemas de saúde mental e as perturbações. Tudo depende de duas grandes dimensões: o sofrimento e a funcionalidade, isto é, a intensidade do sofrimento, se é transitório ou não, e se a pessoa fica incapacitada num ou em vários planos da sua vida. Claro é que é sempre necessário a avaliação clínica de cada caso para se estabelecer qualquer diagnóstico, pois o sofrimento e a incapacidade são dimensões importantes da avaliação da situação. Por exemplo, segundo a autora, as crianças podem funcionar bem sem que os adultos reparem no seu sofrimento ou o seu comportamento ser desadequado ou problemático sem que isso lhe cause aparente sofrimento. A questão é que alguns problemas ou dificuldades podem agravar-se e tornarem-se crónicos se não trabalharmos na prevenção e na intervenção em tempo útil com respostas adequadas. O documento de 10 de Agosto de 2018 da Rede de Referenciação Hospitalar Psiquiatria da Infância e da Adolescência, chama precisamente à atenção para o facto dos dados conhecidos reforçarem a importância e a necessidade do tratamento precoce das perturbações mentais na infância e juventude para tentar diminuir as consequências negativas da psicopatologia no futuro. O documento refere que estudos epidemiológicos têm vindo a confirmar que muitas das patologias psiquiátricas dos adultos têm início, antes dos 18 anos de idade. A Perturbação de Oposição na infância, por exemplo, pode evoluir para algumas perturbações da personalidade, do humor e da ansiedade. A este respeito, e voltando à Dra. Maria do Carmo Santos, ao falarmos das Perturbações na Infância/Adolescência, estamos a falar das Perturbações do espectro do autismo; Perturbações do humor e perturbações da ansiedade (stress pós-traumático e depressão) e de Perturbações do comportamento (Hiperactividade com défice de atenção; Oposição-desafio; e Perturbação de conduta). Problemas de sono, perturbações alimentares, apetite pobre ou selectividade alimentar, queixas somáticas sem causa médica conhecida; Enurese (Ex: Enurese nocturna), tiques, gaguez, separação e divórcio, são outros factores da perturbação da saúde mental.

54% dos e das jovens diz que o comportamento ofensivo e linguagem pejorativa é feito por amigos e amigas.

Como podemos combater esses estereótipos e o uso dessas palavras negativas entre as crianças e jovens, nomeadamente o bullying?

Através da educação, quer a nível de literacia sobre o tema, quer a nível de mudança de atitudes, e esta mudança tem que ocorrer em cada pessoa, de diversas formas, inclusive através da educação parental, educação nas escolas, etc. Através de um trabalho/intervenção integrada e directa junto das populações-alvo e diversos serviços que trabalhem e estejam diariamente com estes públicos, como por exemplo serviços de saúde, escolas, comunicação social, entidades de intervenção social, empresas, etc. Consideramos que o nosso projecto vai ao encontro desta missão. Partimos da convicção que a sensibilização aumenta a consciência social sobre o problema e, por outro lado, a diminuição do estigma fará gradualmente com que se fale naturalmente destas questões sem tabus. Talvez fará com que se peça ou procure ajuda responsável. O alargamento da campanha #IAMWHOLE a Portugal, através do lançamento e divulgação do nosso vídeo nas redes sociais e comunicação social, irá certamente chamar à atenção para o tema e para o cenário preocupante da realidade Portuguesa quando falamos em Saúde mental. O vídeo será ainda um bom instrumento para podermos desenvolver acções de sensibilização e debate sobre o tema junto das escolas, como já foi referido, envolvermos a sociedade em geral e os parceiros do nosso território com que trabalhamos (saúde, educação etc…), em particular.

Á semelhança do Reino Unido e da campanha I AM WHOLE, o projecto #fazesparte YMCA Setúbal lança um vídeo promocional de sensibilização sobre o tema que conta com o apoio de figuras públicas como os actores José Fidalgo e Claúdia Vieira, músicos como Rui David dos Hands on Aproach, Xande e Rui Bandeira ou a apresentadora Mónica Jardim, entre outros, de forma a integrar e incentivar os jovens e crianças que sofrem de saúde mental a procurar ajuda. O lançamento está agendado para o próximo dia 31 de Janeiro em Setúbal no Forúm Municipal Luisa Todi.

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